Bloco do eu mais dois

O mais triste de três é que um fica sozinho na dança E eu não sou voyeur nem sei dançar Mas também não tomo chá de cadeira Trio Ternura, Irakitan, Parada dura Ou somos só nós dois, ou a bateria inteira.

Pra quem é, bacalhau basta

Quem quer o meu lado da cama? Quem quer meu passado, minha infância, o lado bom da minha cabeça? Quem quer ser expulso,ser invisível, ter metade? Quem quer todos os pronomes possessivos da gramática? Quem agradece o amor, quem merece o afeto que tem? Quem come ferro, quem com ferro fere, quem não tem cão, quem ama o feio, quem cospe pra cima, quem vê cara, quem semeia vento, quem procura, quem com porcos se mistura, quem sai aos seus, quem nunca comeu mel, quem te viu, quem te vê?

Sumo

Me falaram que eu tinha cheiro de cana Queria que ele me sorvesse Até ficar diabético

Diarréia

Não posso deixar que esse consumismo todo interfira no meu espírito natalino Não posso deixar que o espírito natalino afete as coisas nas quais eu realmente acredito Não posso deixar que as coisas nas quais eu acredito, impeçam de eu acreditar em coisas novas Não posso deixar que essas coisas novas me deslumbrem... Maldita língua que me pela! Maldito phalo que me falta! Bendito seja esse complexo de castração que mantém o meu olhar turvo e o meu nariz em pé.

Ponto de Vista

Verdade verdadeira Verdade nua e crua Meias-verdades Verdades de meias... quando as tiro, tem chulé. Se bebo chá é uma verdade, se bebo cachaça é outra Sempre confundo minhas verdades sujas Mas jamais tua mentira deslavada.

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Aquela senhora que eu vi rapidamente no ônibus, tem joanete e perdeu um filho? Aquele menino que passa de uniforme todos os dias na minha rua, ama o seu cachorro cheio de pulgas? A doceira que consegue pedalar de saia longa, tem sonhos eróticos com o vizinho? A uruguaia do andar de cima vai ao mercado sem calcinha? O frentista da esquina é espírita e tem pernas lindas? O dono da locadora sonhava em ser ator e coleciona figurinhas? O gerente do banco tem aranhas dentro de um vidro? Quando vejo o padre me pergunto se ele tem apêndice, quando olho pro céu penso se vai chover, quando te vejo por que tu não cai aos meus pés?

Presente

Silêncio não traz beatitude E se somos populares pra fugir dos nossos outros que fim tem isso? Gosto da sorte, essa discreta visita invisível Gosto da manhã, que nos tira esse gosto seco de morte da boca Já fui dura aos 19, agora sou flácida, em todos os sentidos do verbete. Nossos inimigos imaginários nos esperam atentamente em cada esquina. Nunca os vi tão pontuais, nunca os vi tão belos! Um grande abraço praquilo que só a gente vê e um até logo pra você que estuda na escolinha da vida, da qual somos todos repetentes.